domingo, 1 de maio de 2011

Limites da Sedução [Parte 3 - FIM]

-Uma hora. – repetiu Akira para me fazer entender que se dentro do tempo estabelecido não estivesse na rua seria mau para o meu lado….
-É assim que cumpres o que dizes? – comecei sem controlo na voz. – Quando prometeste que estarias sempre comigo, que me acolhias em tua ca…
-Nem continues! – gritou ele. – Não acabes essas frases Kaori, olha que ainda te podes vir a arrepender delas. O teu irmão está morto, tu és maior e vacinada e agora faz-me um favor e põe-te a andar desta casa! Desaparece de uma vez… - a agressividade da voz voltara e eu sentia-me outra vez prestes a sucumbir… como podia alguém ser tão frio, tão insensível…
Akira agarrou no seu casaco e saiu do meu quarto com uma rapidez alucinante, a raiva que agora sentia era a mistura do que eu lhe dissera com as suas próprias decisões… Encostei-me a parede e deslizei, deixei-me cair até embater no chão, puxei as pernas ao peito e não consegui evitar as lágrimas, aquelas pérolas transparentes que me caiam cada vez que ele me magoava, estava com dificuldade a respirar e doía-me a cabeça de tanto barulho a que tinha estado exposta. Estava num daqueles momentos em que o mundo parecia cair-me em cima, onde apenas a solidão consolava o meu coração que gritava em espasmos ritmados o nome dele… Respirei fundo, teria de ser mais forte! Ver para além do que os olhos me mostravam, sonhar para além da minha consciência… Limpei as lágrimas e fitei a lua que se erguia alta no céu, observei-a algum tempo no silêncio obscuro da noite e só me levantei quando ganhei forças para começar a fazer a mala… Iria ser mais forte que isto!
Penosamente retirava todos os meus pertences, que não eram muitos, das gavetas, armários e prateleiras, limitei-me a preparar apenas roupa para levar, também tinha as minhas estratégias e um dia ainda voltaria para aquela casa, um dia seria ele a sucumbir a mim, um dia seria ele a morrer de desejo de me tocar… Não sei quando mas um dia…
Passara uma hora e tudo o que me pertencia e me fazia falta estava arrumado dentro da mala, preparei-me para sair… Caminhei até a porta da saída e na sala vi o Akira à janela, observando algo com um olhar distante, fixei-o de modo a chamar a sua atenção mas sem sucesso, ele apenas olhou com a alma vazia e fria, digamos congelada, e voltou novamente os olhos para a janela. Sentia-me tão frustrada! Como se estivesse a perder uma batalha, totalmente humilhada, fracassada… Sem qualquer alegria. Abri a porta num ápice e fechei-a atrás de mim com força, como se estivesse a descarregar tudo nela, como se libertasse toda a minha raiva, toda a minha fúria e consequentemente toda a minha tristeza. Sai a porta do prédio e foi nessa altura que comecei a vaguear sem destino pelas ruas de Tóquio. Ainda era assolada por várias preocupações, e, mais grave ainda, por imagens do Akira ao meu lado. Imagens dele do género de flashback a passar na minha mente e a torturarem-me com aquelas memórias que tanto me seduziam…
Observei o meu relógio… Uma da manhã… Nesta altura comecei a pensar onde iria passar a noite, em que beco escuro, em que vão de escada, ou debaixo de que ponte… Nesta altura comecei a ficar seriamente preocupada com o sitio para onde ia…

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