domingo, 1 de maio de 2011

Limites da Obcessão [Parte 2]

Quando dei por mim já a garrafa jazia ao meu lado no sofá, tombada para o lado, enquanto eu dava o último gole de vinho esperando desesperadamente que tal bebida limpasse a minha frustração obstinada. Perguntava-me, naquele preciso momento, a razão da existência de Lori na vida dele. Porquê? Nós podíamos ser tão felizes se não houvesse aquela rapariguinha no meio! Aquela criatura de palmo e meio que gostava muito de brincar as senhoras crescidas, erguendo-se nos seus saltos altos de 10cm quando ela própria não media mais de metro e meio. Usava o seu cabelo preto escorrido com uma franjinha de boneca sobre os olhos… Começava a sentir as pálpebras pesadas do álcool, tudo tinha abrandando a um ritmo quase sobrenatural e, apesar de tudo ter começado a parecer melhor, não conseguia tirar Lori da cabeça! Queria que ela desaparecesse, queria estalar os dedos e vê-la evaporar-se no ar, queria ser feliz junto do homem que amava. Segundo Jelle ela acabaria por se ir embora, ia voltar para Espanha após terminar a faculdade… Mas admitamos que isso não iria propriamente acontecer no dia seguinte! Recordei-me inevitavelmente de uma conversa que tinha tido com Jelle umas semanas atrás.
Ambos estávamos sentados no sofá, os braços dele prendiam-se à volta dos meus ombros.
“Amo-te…” sussurrara ele ao meu ouvido. “Também te amo meu doce… Diz-me uma coisa… Quando é que vou deixar de te partilhar com a Lori?” dissera eu fitando os seus grandes olhos azuis. “Esse dia está quase a chegar linda…” respondera ele, finalizando após um beijo “Eu largaria qualquer coisa por ti!” “Asério?” se não estivesse tão cega ter-me-ia surpreendido com a minha própria ingenuidade. “A sério meu amor…” ele afagava-me o cabelo enquanto me beijava o pescoço…
O resto da memória já estava turva, aliás, já tudo era turvo à minha vista, mirei pela janela. O rio Amstel corria perante os meus olhos numa rapidez fugaz, via as árvores agitadas serem chicoteadas pelo vento violento. Na minha cabeça as cores já se misturavam, os salpicos florais que repousavam no leito do rio não eram mais que meros pontos na tela distorcida que era a minha mente. Os meus olhos ameaçavam fechar. Recuei uns passos e tombei no sofá, imóvel. Apaguei…
Comecei a ouvir um barulho ao longe, a chamar-me, a arrastar-me lentamente para a realidade. Tinha caído num sono profundo por efeito do álcool, olhei para o relógio, não tinha dormido mais de duas horas e acordei com a campainha a tocar. Levantei-me relutantemente, deambulei até à porta arrastando os pés pelo chão. Bateram à porta.
“Aaghie…?” ouvi chamar do lado de fora da porta. Era a voz do Jelle… Estremeci perante a minha conclusão.
Esforcei-me por ficar, ou ao menos parecer, sóbria o suficiente para encarar Jelle apesar de ainda sentir a cabeça a latejar. Abri rápido a porta e ele entrou de rompante. Fechei a porta atrás dele e mirei-o de alto a baixo, aparentemente ele estava a fazer o mesmo. Pisquei os olhos num segundo e no outro estava a sentir o calor do corpo dele contra o meu, os seus braços envolviam-me carinhosamente num abraço apertado.
-Eu não te ando a evitar bebe. – sussurrou ele ao meu ouvido. O meu coração falhou uma batida e senti um arrepio percorrer-me as costas.
-Não atendias… Pensei nisso… Desculpa ter ideias tão parvas! E desculpa ter ligado à Lori… - Ele afagou-me a cabeça e pressionou-a contra o seu peito. – Desculpa… - murmurei novamente.
-Shhhhh… Já passou meu amor. – ele encaminhou-se para o sofá e sentamo-nos, recostei-me entre os seus braços.
-Amor? – ele acariciava-me a cara de um modo doce e suave que me transportava para outra dimensão, isso mais o efeito do álcool começava a deixar-me numa espécie de transe.
-Sim Aaghie…

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