-Quando tempo falta para a Lori se ir embora? – Senti o coração dele dar um pulo.
-Embora? – perguntou ele como se tivesse sido apanhado de surpresa.
-Da nossa vida… - A voz falhou-me. – Para finalmente ficarmos juntos. – respirei fundo, não conseguia bloquear aquele sentimento de arrependimento que me começava a toldar o pensamento.
-Aaghie…- murmurou ele – Acho que precisamos de esclarecer umas coisas. – a voz dele tinha mudado de tom e os seus braços já não estavam a minha volta, o medo começou a apoderar-se de mim… Ele levantou-se e fitou-me enquanto eu permanecia gelada no sofá. Tinha um pressentimento estranho, um nó no estômago que me indicava que algo estava errado.
-Eu não vou deixar a Lori. – disse ele firmemente, como se estivesse absolutamente certo daquilo que queria.
-Não vais agora certo? Mas mais tarde… Talvez quando perceberes que só queres estar mesmo comigo e q-q-quando ela voltar para Espanha… - comecei a gaguejar, a tremer… Estava a começar a ficar desorientada, com a racionalidade toldada.
-Não! Não vou deixá-la!
-Mas porquê? – gritei eu, não consegui evitar ficar exaltada. – Que tem ela de tão importante para ti? Que é que ela tem que eu não tenho Jelle?! Diz-me! – tremia cada vez mais, já me tinha levantado do sofá num ímpeto de raiva, para ficar mais ao nível dos olhos dele.
-Tu é que não consegues perceber as coisas! Não consegues distinguir algo sério de algo que é apenas por diversão! Lê os meus lábios Aaghie! Eu não vou deixar a Lori! Muito menos por causa de ti!
-Mas tu disseste-me… Tu prometeste-me! – os meus olhos começaram a encher-se de lágrimas. – Tu prometeste Jelle! – gritei sem pensar.
-Eu nunca diria isso! Nunca! Por isso pára de me tentar manipular com os teus jogos! – a voz dele elevara-se acima da minha, eu esforçava-me para segurar as lágrimas. O meu cérebro estava completamente bloqueado e não conseguia raciocinar correctamente.
-Disseste na outra noite… - murmurei fitando o chão.
-Provavelmente estava bêbado Aaghie! Mas será que tu não percebes? – Jelle gritou olhando-me nos olhos. Não consegui conter mais as lágrimas.
-Não! Não! Não estavas! – recusava-me a aceitar. – Disseste que me amavas! Nós estávamos juntos e tão felizes! Porque é que mudaste de repente?
-Nós? Nunca houve um Nós para começar… E estávamos bem até começares com a tua paranóia e as tuas obsessões doentias! Elas destruíram tudo o que eu sentia ao estar contigo! Alegria, prazer, mas uma coisa te garanto… Algo que nunca senti foi amor! Até a última réstia de amizade que eu tinha por ti conseguiste sufocar! – duas grossas lágrimas escorreram-me pela cara, os olhos dele trespassavam-me quais navalhas afiadas, sentia toda a sua raiva, a sua frieza… nada conseguiria trazê-lo de volta… - Aaghie… Eu e a Lori estamos noivos…
Num ápice senti todo o meu mundo a desmoronar-se como um castelo de areia levado pelo mar. Parecia que tinha levado um balde de água fria com o balde e tudo… Senti-me bloqueada, sem reacção… Só queria esconder a cara e chorar. Sinceramente não queria acreditar que isto estava a acontecer, sentia-me tão usada, tão magoada…. Senti a raiva dominar-me, já não estava em mim… Fiz uma pausa, ponderei no que ia dizer, respirei fundo.
-Então diz-me amor, meu querido, que diria a tua noiva se de repente descobrisse que tu tinhas outra namorada? – não pude evitar sorrir maliciosamente, estava tão cega pela rejeição que já nada me interessava.
-Tu não és, nem nunca foste minha namorada! – gritou ele com os olhos em chamas. – Aaghie digo-te uma última coisa… - Ele caminhou para a porta e abriu-a. – Se me estragares o casamento… - murmurou ele. – Eu mato-te! – Jelle preparou-se para sair.
-E se eu te matar primeiro? – murmurei num tom de voz doentio.
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